quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Fringe



Edimburgo é a cidade dos festivais, por isso vim pra cá. São 13 ao longo do ano. Vim estudar Festival Management.

O Fringe, que acontece em agosto, é o maior festival de artes do mundo. Esqueçam a noção que vocês têm de festival, isso aqui não tem explicação. São milhares de apresentações diárias de tudo o que é tipo de arte. Tem música, dança, teatro, exposições, performances na rua, tudo o que se possa imaginar. Teatros, museus, pubs, igrejas e qualquer lugar que possa se transformar num "venue" participa. Veem-se pessoas de tudo o que é lugar, ouvem-se as mais estranhas e conhecidas línguas na rua.


No dia em que minha mãe voltou pro Brasil, comecei a mergulhar nesse mundo. Do aeroporto, fomos direto ao centro, eu e a minha irmã. Com o programa embaixo do braço, tentei selecionar o que ver. Pensei em iniciar pela música, pois não tinha certeza se eu entenderia uma peça toda em inglês. Timidamente, procurei ficar sempre próxima à minha irmã, que estava trabalhando no festival, panfleteando os shows de uma determinada companhia. O "point" dela era na frente do Gilded Balloon. O prédio pertence à Universidade de Edimburgo e abriga normalmente o diretório acadêmico da universidade. Na época do Fringe, é o Gilded Balloon, um "venue" com nove salas de apresentações. Considerando que cada sala tem em média 10 shows por dia, só neste local havia umas 90 apresentações diárias, pra vocês terem uma ideia do tamanho do evento.

Em frente ao Gilded Balloon fica a vaca roxa, que eu adorei. Não sei por que é roxa nem por que fica de pata pra cima, mas achei o máximo. É um dos maiores palcos e tem normalmente shows musicais ali dentro. Chama-se Udderbelly e é patrocinada pelo canal de televisão E4. Ali assisti a um espetáculo muuuuito bom do grupo The Magnets. Um conjunto vocal a capela em que um dos membros faz o som de bateria (beatbox) e outro faz o contrabaixo com a boca. Os quatro restantes cantam e fazem vocalises.


Sobre o Fringe teria muito o que falar, mas vou tentar fazer um resumão do que vi. Encontrei 14 ingressos que guardei, assisti a um pouco mais que isso, pois há shows de graça também. Depois da primeira semana, passei a ir dia sim, dia não ao centro, senão se gasta demais... mas vale a pena, se souber escolher os shows. Às vezes a gente erra, mas faz parte.


No primeiro dia, assisti a uma peça em que minha irmã era "stage manager" (que chique!). "Rebecca" é uma peça de época, um suspense. Achei meio devagar no começo, mas depois engrena.

No segundo dia, fui a um masterclass com produtores. Legal, mas acho que faltou um pouco de profundidade. Depois, encontrei com a minha irmã no centro pra almoçar e ela disse: "Vai ver o Shane, ele é bom. E ele fala no gato dele". Shane Langan era um dos promovidos pela minha irmã e apresentava um espetáculo misto de comédia e "storytelling", que é bem comum aqui. O argumento do gato me convenceu, rsrsrs. Fui. Acho que entendi metade, mais ou menos, mas várias vezes o público riu e eu fiquei boiando...

No dia seguinte resolvi ver um show de dança, pois nunca tinha assistido a um. Fui ao Scottish Dance Theatre, mas me enganei de espetáculo. O grupo apresentava dois diferentes shows em dias alternados, eu me perdi nos dias e acabei vendo o show "errado". Foi legal, mas tive a impressão de que eu teria gostado mais do outro, que tinha um cunho folclórico. O que vi chamava-se "Luxuria" e achei meio esquisito, embora ao final o público tenha aplaudido de pé... fui na carona.

Na sequência, assisti a algumas boas peças. "The Other Side" retrata o caso de uma mãe judia que perde o filho soldado na luta na Faixa de Gaza e um dia, por engano, faz uma ligação telefônica que cai na casa de um palestino "do outro lado" da barreira militar. "Ernest and the Pale Moon" é uma história bizarra que envolve assassinato e tem uma narrativa interessante. É contada em terceira pessoa, enquanto os atores vão fazendo o que estão contando. "In a Thousand Pieces" trata do problema da prostituição de imigrantes do Leste Europeu. É meio chocante. Uma das atrizes chegou a sangrar no palco. É o que eles chamam de teatro físico. A mais fraca, mas ainda razoável, foi "Frozen", sobre um maluco assassino que é usado como objeto de um estudo psicológico. Vi ainda "His Ghostly Heart", uma peça toda no escuro, a gente só vê um vulto e escuta os atores. Mas não achei grande coisa.

Vi também algumas comédias musicais. Dead Cat Bounce foi a melhor. Axis of Awesome foi bom, "Afternoon Delight" e "Princess Cabaret" foram médios e, decididamente, Sirqus Alfon foi o pior. Minha irmã adorou, pra mim é trash demais. Só fui porque o ingresso tava em promoção 2 x 1. Isso às vezes acontece com shows que vão mal, como uma forma de promover.

Na stand up comedy não caio mais. Eles adoram aqui. Tentei umas três vezes, fui em shows gratuitos, mas não dá. Nas poucas partes que eu entendia, não achava a mínima graça. Minha irmã disse que tem alguns caras realmente bons, mas não são muitos. E esses não se apresentam com entrada franca.

Pra encerrar, vi uma comédia muito boa, peça mesmo, não stand up. Eu estava em dúvida de ir, porque esculachava um dos personagens de que mais gosto, Sherlock Holmes. E avacalhar com ele na terra do seu criador não era justo... A Flávia insistiu, disse que no ano passado a mesma companhia fez um "Cyrano" sensacional. Então fui assistir a "Sherlock Holmes and the Saline Solution". E os guris do Sound and Fury não decepcionaram, dei boas gargalhadas.




*Ah, sim, as malas foram entregues na segunda de manhã.

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